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Mostrando postagens de 2015

Santa's stories - Não-el

 Crianças. Luzes. Multidão. Vozes. Sacolas. Verde. Vermelho. Dourado. Branco. A magia natalina estava de volta. Era o sexto Natal na vida de Emanuela. De todos os dias do ano, este era o favorito. Para a pequena, a vida tinha um gosto diferente na semana que antecedia o Natal. As ruas eram movimentadas, os vizinhos cordiais, as casas e shoppings mais verdes, as cores mais brilhantes e os brinquedos melhores. A família reunida em volta da mesa a deixava alegre, fazendo-a esquecer da hipocrisia dos outros 364 dias.   Na fila para conversar com o Bom Velhinho, se encantava com as famílias e conversava com outras crianças próximas a ela. Não compreendia o choro de alguns menores, afinal de contas era época de rir e celebrar, mas não de chorar. Conforme sua vez chegava, Emanuela se empolgava. Pensava no que dizer. Não era tola e sabia da verdade sobre o Papai Noel, mas não queria abrir mão de conversar sobre como tinha sido durante o ano todo, os votos de paz e amor para o a...

Estória suburbana

Pedro José vem chegando ao longe. Como sempre, a vizinhança sabia que ele estava chegando antes mesmo de chegar, pois ruidoso Pedro José era. Cantarolando obscenidades, pigarreando catarros, cuspindo cantadas às moças, engolindo destilado vagabundo e tragando Marlboro, Pedro José era o retrato de um Quincas Berro D'água. Provavelmente hoje foi dia de pagamento, visto que outros sete bêbados empilham passos tortos ao redor de Pedro - que tinha a imbecil mania de gastar 150 reais logo após pegar o não-tão-volumoso salário com "amigos", vadias baratas e apostas irracionais. Os postes projetavam uma luz de um amarelo doentio entre a penumbra das onze, fazendo com que sombras dançassem embaixo do caminhar alcoólico uma melodia insensata.  Pedro José se despediu do metrô de trilhos curvos que era aquele conjunto de boêmios andando pela calçada. Essa era a rua dele e agora ele marchava em direção ao seu lar. Com o peito amostra e carregando uma medalha de São Judas Tadeu, ele...

O tipo de pessoa certa para você, mas não para você

Minha carne é macia e aconchegante ao toque e poderia te receber em meus braços. Meu amor é como droga que vicia ao simples gosto. Com um trago, toda minha essência poderia ser entregue a você. Meu beijo é embriagante, fazendo com que, ao provar da minha boca, eu te tornasse minha única alcoólatra.   ... Mas é uma pena que você seja  vegetariana,  não use drogas e não beba.

Distância entre olhos.

Alerta: Você só compreenderá esse texto se já amou quem nunca pode ter em seus braços Ev'ry Time We Say Goodbye by Ella Fitzgerald on Grooveshark  Eu lia o braile de teu corpo com meus dedos tentaculosos, abrindo vulcões expelidores de arrepio e hormônios em teus poros macios com o simples toque. Eu estudava a topografia de tuas idas e vindas montanhosas e desenhadas para fazer homens se acidentarem, marcando cada passo com um beijo para que, tal qual contos para crianças sapecas, eu voltasse pelo caminho que fui. Eu saboreei tuas peles, desde as com sabor adocicado de teus lábios até as de maciez salgada de teus grandes lábios. Em noites de tormenta, eu já dormi em teu peito desnudo e aconchegante, morando no espaço de teu coração. Em madrugadas de alegria eu já pousei minha cabeça e fiz morada na tua palma, arrumando um canto entre teus cafunés.   Mas era comum acordar apenas com a lembrança de uma noite ilusória, além de tua pele em meu lençol, teu perfume n...

Cartas certas.

Parte I   Acordo. O ato de abrir os olhos já me é estranho e, ao finalizá-lo, a estranheza continua. O raciocínio ainda é lento e chega junto com a dor no globo ocular e na têmpora. Essa luz suja e difusa dói. As primeiras palavras que me vêem a cabeça são "que merda é essa?". Mexi a mão instintivamente para alcançar e pressionar a têmpora, crendo que o simples movimento pudesse fazer a dor parar por completo, como se algum remédio mágico estivesse nas pontas de meus dedos e que o alívio fosse instantâneo. Ao fazer isso, sinto um frio metálico em meus pulsos. O barulho de correntes só serve para aumentar a surpresa. A cabeça cai para o lado devagar até eu achar o causador do frio em meu pulso. Reluzente e inigualável, uma algema surge adornando o braço esquerdo. Com mais força para poder ir mais rápido, tento girar 180º de uma vez para ver o direito. A mesma cena se repete. "Que merda é essa?" eu penso, levantando os braços e me revelando presa. Scanneio o ...