Fugitivo.
Acordei. Olhei para as manchas luminosas que vinham da direção da janela. Minha vista embaçada não me permitia observar as coisas com detalhes. Foi aí que olhei para o lado da suíte, que fica próximo do lado esquerdo da cama. Lá, com a porta aberta, uma silhueta feminina se desenhava por entre a fumaça de vapor d'água, as curvas que Oscar Niemeyer desenhara toda a vida resumidas naquelas sinuosas voltas. Na silhueta jazia você, que acabara de tomar um banho quente e abria a porta de vidro do boxe.
Levantei o tronco e sentei na cama. Voltei as pernas para o lado de fora e coloquei o chinelo. Saindo da cama, coberto apenas por uma boxer, me dirigi ao banheiro e te abracei, do jeito que estavas, nua e molhada. Você, sem entender ou saber o que fazer (acredito eu), ficou estática, imóvel. Olhei no seus olhos claros, daquela cor que eu nunca saberei diferenciar. Queria te segurar mais forte ainda, como se minha vida dependesse de te segurar. Queria dizer o que a garganta não deixava. Abaixei a cabeça, deitando-a sobre teu ombro , ainda abraçado com você, que agora, sem ter escapatória, me abraçou também. Uma lágrima caiu, você não notou, pois ela se misturou as milhares de gotas de água espalhadas pelo teu pálido e avermelhado corpo.
Me desconectei, te olhei e sai, como se tivesse cometido um pecado, com passos largos. Você, meio desconfiada, estranhou, mas continuou calada, se secando com a toalha. Eu estava na varanda, deixando o vento e o sol secar o úmido do meu corpo, que servira de toalha para parte de tuas gotas. Me voltei, coloquei um calção e uma regata e fui em direção a cozinha, descendo as escadas e te deixando lá no quarto para eu fazer café.
Depois de um tempo, com a mesa pronta e o café terminando de ser feito, você desceu, vestida com a típica camisa estampada, um casaco por cima, a jeans azul sujo e os sapatos que eu sempre noto, toda arrumada para ir para faculdade. Foi olhar o estado do café e eu avisei que podia se sentar que pois estava quase pronto, fazendo o que eu lhe pedi depois de me roubar um beijo, cujo retribui com um sorriso e a frase clichê típica dos casais para expressar o amor. Ao ter terminado, levei a garrafa e te servi, novamente sorrindo.
Na mesa de quatro lugares e arredondada, eu sentei na sua frente, te admirando e comendo um pão com qualquer-alguma-coisa. Mal sabia você que essa seria nossa última refeição, o banquete da despedida sem adeus, a última ceia. O silêncio parecia ser o prato principal, junto com uma torta de climão, aonde os dois tinham (e sabiam que tinham) algo para dizer, porém não diziam.
Você notou que eu ainda estava mal vestido e perguntou se eu não ia me arrumar, se não ia para faculdade. Afirmei que não, dizendo que estava mau e que ia no médico. E você? Você caiu nessa, claro. Pegando a bolsa, perguntou se podia ir com o carro, respondi que sim. "Leva e cuida", disse eu. Me deu tchau, te abracei de novo, dessa vez menos demorada e com um beijo para selar a despedida. Ou pelo menos o que você acreditara que ia ser a despedida de um dia, mas não sabia que era por um tempo. Quanto tempo eu não sei. Dois dias, três semanas ou um para sempre, por que não?
O carro arrancou: a confirmação que você tinha saído. Foi o que me restava para me auto-afirmar que tu tinha partido. Agora era minha vez. Subi, peguei a mala arrumada durante sua ida ao mercado, no dia anterior e escondida embaixo da cama. Desliguei tudo, arrumei tudo e fui. Sabe, não me leva a mal, mas eu não nasci para aprisionar ou para ser aprisionado. A atmosfera da rotina, pesada de meses, consumia cada osso meu, me corroendo.
Alguns dizem que as mulheres são de Vênus, os homens de Marte e a Terra é o ponto de encontro. Mas nós...nós éramos Mercúrio e Plutão e eu, como bom Plutão que sou, vou saindo do seu caminho. Encolhido em minha pequenez, pego um táxi e vou embora, não importa para aonde. Não espero que, se eu voltar, tu me receba de braços abertos, bem como não espero que entenda o que fiz. Agora vai, estude, durma nessa cama, coma, viva...qualquer dia desse a gente se alinha e vê o que faz da vida.
Levantei o tronco e sentei na cama. Voltei as pernas para o lado de fora e coloquei o chinelo. Saindo da cama, coberto apenas por uma boxer, me dirigi ao banheiro e te abracei, do jeito que estavas, nua e molhada. Você, sem entender ou saber o que fazer (acredito eu), ficou estática, imóvel. Olhei no seus olhos claros, daquela cor que eu nunca saberei diferenciar. Queria te segurar mais forte ainda, como se minha vida dependesse de te segurar. Queria dizer o que a garganta não deixava. Abaixei a cabeça, deitando-a sobre teu ombro , ainda abraçado com você, que agora, sem ter escapatória, me abraçou também. Uma lágrima caiu, você não notou, pois ela se misturou as milhares de gotas de água espalhadas pelo teu pálido e avermelhado corpo.
Me desconectei, te olhei e sai, como se tivesse cometido um pecado, com passos largos. Você, meio desconfiada, estranhou, mas continuou calada, se secando com a toalha. Eu estava na varanda, deixando o vento e o sol secar o úmido do meu corpo, que servira de toalha para parte de tuas gotas. Me voltei, coloquei um calção e uma regata e fui em direção a cozinha, descendo as escadas e te deixando lá no quarto para eu fazer café.
Depois de um tempo, com a mesa pronta e o café terminando de ser feito, você desceu, vestida com a típica camisa estampada, um casaco por cima, a jeans azul sujo e os sapatos que eu sempre noto, toda arrumada para ir para faculdade. Foi olhar o estado do café e eu avisei que podia se sentar que pois estava quase pronto, fazendo o que eu lhe pedi depois de me roubar um beijo, cujo retribui com um sorriso e a frase clichê típica dos casais para expressar o amor. Ao ter terminado, levei a garrafa e te servi, novamente sorrindo.
Na mesa de quatro lugares e arredondada, eu sentei na sua frente, te admirando e comendo um pão com qualquer-alguma-coisa. Mal sabia você que essa seria nossa última refeição, o banquete da despedida sem adeus, a última ceia. O silêncio parecia ser o prato principal, junto com uma torta de climão, aonde os dois tinham (e sabiam que tinham) algo para dizer, porém não diziam.
Você notou que eu ainda estava mal vestido e perguntou se eu não ia me arrumar, se não ia para faculdade. Afirmei que não, dizendo que estava mau e que ia no médico. E você? Você caiu nessa, claro. Pegando a bolsa, perguntou se podia ir com o carro, respondi que sim. "Leva e cuida", disse eu. Me deu tchau, te abracei de novo, dessa vez menos demorada e com um beijo para selar a despedida. Ou pelo menos o que você acreditara que ia ser a despedida de um dia, mas não sabia que era por um tempo. Quanto tempo eu não sei. Dois dias, três semanas ou um para sempre, por que não?
O carro arrancou: a confirmação que você tinha saído. Foi o que me restava para me auto-afirmar que tu tinha partido. Agora era minha vez. Subi, peguei a mala arrumada durante sua ida ao mercado, no dia anterior e escondida embaixo da cama. Desliguei tudo, arrumei tudo e fui. Sabe, não me leva a mal, mas eu não nasci para aprisionar ou para ser aprisionado. A atmosfera da rotina, pesada de meses, consumia cada osso meu, me corroendo.
Alguns dizem que as mulheres são de Vênus, os homens de Marte e a Terra é o ponto de encontro. Mas nós...nós éramos Mercúrio e Plutão e eu, como bom Plutão que sou, vou saindo do seu caminho. Encolhido em minha pequenez, pego um táxi e vou embora, não importa para aonde. Não espero que, se eu voltar, tu me receba de braços abertos, bem como não espero que entenda o que fiz. Agora vai, estude, durma nessa cama, coma, viva...qualquer dia desse a gente se alinha e vê o que faz da vida.
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