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Mostrando postagens de maio, 2017

Era de Aquário

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Quando você estiver lendo isso, eu provavelmente estarei desembocando em outras bocas que não a tua. E, com sua rigidez, é provável que não me entendas. Eu não peço para que o faças. Nem eu mesmo tenho essa capacidade. É só que - salvando a cota de egoísmo que me é preservado, mas longe de qualquer narcisismo sentimental - eu preciso correr meu caminho . Nessa sequência de enganos que resolvi cometer na vida, você, que poderia ser a correnteza certa para mim, emergiu nos mais impróprios dos momentos. Talvez em outro ciclo de marés de sorte eu seria mais convidativo. Mas, my dear , nesses tempos líquidos eu não posso ser contido. Eu gosto da aguardente que chove em mim e rega a flor da minha pele, me fazendo querer ser sinuoso pelos ralos do mundo. Eu me banho nos pecados oferecidos e deságuo nos braços da morena de lábios torrenciais e cabelos ondulados. Eu alago outras camas com meu orgasmo e me navego pelas noites de danças dessa cidade. E o pior: eu não sinto culpa por lav...

Royal Flash

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Versão inspirada no texto "Aviso"  A essa altura tu já deverias saber que não sei jogar poker. Não sei ler teus blefes nem tuas verdades. Não mantenho segredos sob as mangas e, por isso, quando sinto vontade de te mostrar minha inabilidade, boto as cartas na mesa e te aponto o dedo. Peço que não analise isso como uma rodada fraca ou maldosa jogada, mas sim como participantes embaralhados pela vida. Os outros apostadores em nossas vidas virão e sairão até que parceiros fixos refaçam as regras dos nossos joguinhos mentais. Até lá, essa mesa de bar só abarca dois perdedores chutados por Vegas e algumas bebidas baratas. Neste lugar, o banheiro está enfeitado com " Veja que eu não quero as canções dedicadas a você. São melhores agora / Note que não busco ressarcimento dos textos escritos em cadernos rabiscados. Mantenha-os. / Guardemos as palavras trocadas. Nunca poderemos voltar para apagá-las, infelizmente ". O fundo do copo me permite concordar e dizer sem rece...

Sepulcro

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"Os amores são como impérios: desaparecendo a ideia sobre qual foram construídos, morrem junto com ela" - Milan Kundera   No Toshiba preto, um CD deixado por quem me jurou fidelidade revela cadáveres de culpas que soterrei com destilados e fermentados.   Me exponho, te exumo, não te eximo, mas te exílio de mim. Ainda lembro quando ficou claro para ambos o quão errado nossa união se desenhava, culminando em nosso assassinato.   _ "Querida, veja bem: há acusados e acusadores, mas nunca seremos mandados ao banco dos réus. Vamos nos sentenciar a solidões individuais do que uma compartilhada", dizia a abertura de algum Nouvelle Vague. Instintivamente nos entreolhamos, como se um buscasse a mesma afirmação nos olhos do outro. A expectativa do instinto se defrontou com a real epifania, que nos acertou como um tiro no peito: éramos uma farsa, mas fingiríamos até mais adiante. Ao menos até ao sairmos do cinema. Terminamos o filme, mas ninguém o assistiu....