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Mostrando postagens de março, 2017

Lacuna

Sobre perceber que não pertencemos nem somos pertencidos. 1º ato: Des ejo remanescente Como uma prece pagã, te recitava entre gemidos inexpressíveis e gritos incaláveis na esperança de invocar tua reencarnação. O acaso enterrou teu corpo longe dos meus olhos, mas meu desejo persistia em teu encalço. E por que não persistiria? Abruptamente me deixaste de lado, como quem sem motivo aparente abre a porta d o carro em movimento e empurra para longe de si o passageiro, permitindo que esse levasse em seu tombo apenas uma mala com promessas, projeções e P olaroids. Seu termo forçado obrigou a abreviar o que inocentemente ou pecaminosamente desejava de ti. Orava por tua presença astral como pura beata ao mesmo tempo que implorava teu contato físico como uma amante masoquista. Enquanto não te ressuscitava, me martirizava por perder-te. "Por que não te disse isso antes?", "Por que não te encontrei mais?", "Por que exaltei o tempo e evitei de falar contigo?...

Cinzas de outros Carnavais

A disposição para festejar já não era a mesma de anos atrás. A caminhada pela (literal) avenida exigia disposição que não lhe transbordava . Cansado d e samb ar - ain da que seus passos se resumissem aos dedos indicadores para cima -, e ntrou em boteco qual quer. Sentou-se junto ao bal c ão . Pediu uma cerveja, mas a fome que batia mais ritmada que o bumbo lá fora o forçou a orde nar também um salgado requentado d o vidro . En quan to a ban da continuava a passar e ele encarava as gotas da garrafa gelada, a mascarada ani mada se aproximou do atendente posi cionado atrás do tampo de madeira e ped iu uma dose de Martini. O garçom lança a ela um olhar como de quem duvida da sanidade e do senso de localização da in terlocutor a , que responde rindo: " Brincadeira, querido. Eu quero uma cerveja mesmo " Reconheceu quem era. Apesar da fantasia , da tonalidade da pel e mais bronzeada e do cabelo diferente , a m aior mudança desde a ú ltima vez que lhe vira era ...