Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 2015

Distância entre olhos.

Alerta: Você só compreenderá esse texto se já amou quem nunca pode ter em seus braços Ev'ry Time We Say Goodbye by Ella Fitzgerald on Grooveshark  Eu lia o braile de teu corpo com meus dedos tentaculosos, abrindo vulcões expelidores de arrepio e hormônios em teus poros macios com o simples toque. Eu estudava a topografia de tuas idas e vindas montanhosas e desenhadas para fazer homens se acidentarem, marcando cada passo com um beijo para que, tal qual contos para crianças sapecas, eu voltasse pelo caminho que fui. Eu saboreei tuas peles, desde as com sabor adocicado de teus lábios até as de maciez salgada de teus grandes lábios. Em noites de tormenta, eu já dormi em teu peito desnudo e aconchegante, morando no espaço de teu coração. Em madrugadas de alegria eu já pousei minha cabeça e fiz morada na tua palma, arrumando um canto entre teus cafunés.   Mas era comum acordar apenas com a lembrança de uma noite ilusória, além de tua pele em meu lençol, teu perfume n...

Cartas certas.

Parte I   Acordo. O ato de abrir os olhos já me é estranho e, ao finalizá-lo, a estranheza continua. O raciocínio ainda é lento e chega junto com a dor no globo ocular e na têmpora. Essa luz suja e difusa dói. As primeiras palavras que me vêem a cabeça são "que merda é essa?". Mexi a mão instintivamente para alcançar e pressionar a têmpora, crendo que o simples movimento pudesse fazer a dor parar por completo, como se algum remédio mágico estivesse nas pontas de meus dedos e que o alívio fosse instantâneo. Ao fazer isso, sinto um frio metálico em meus pulsos. O barulho de correntes só serve para aumentar a surpresa. A cabeça cai para o lado devagar até eu achar o causador do frio em meu pulso. Reluzente e inigualável, uma algema surge adornando o braço esquerdo. Com mais força para poder ir mais rápido, tento girar 180º de uma vez para ver o direito. A mesma cena se repete. "Que merda é essa?" eu penso, levantando os braços e me revelando presa. Scanneio o ...